Cearense moradora da Itália relata como está a rotina com pandemia de coronavírus
A cearense Francisca Graciane Ferreira, mãe de quatro filhos, vive há 15 anos em Nápoles, na Itália, com a família e diz que “o clima é de salve-se quem puder” com o pior surto de coronavírus da Europa. Casada com um italiano, Graciane comenta que não tem condições de comprar máscara protetoras para ela e família, que chegam a custar 15 euros. Por conta situação do país, ela quer voltar ao Brasil por meio de repatriação.
Em coletiva de imprensa na terça-feira (11), a Organização Mundial da Saúde (OMS) classificou a doença como pandemia. No mesmo dia, Ministério da Saúde diz que a repatriação de brasileiros na Itália “não está no radar”.
Na segunda-feira (9), o primeiro-ministro da Itália, Giuseppe Conte, declarou que toda a Itália está classificada como “zona vermelha” e endureceu as restrições na circulação em todo o território italiano, para tentar conter a crise gerada pelo novo coronavírus. O país tem o maior número de casos de Covid-19 fora da Ásia.
"A Itália não tem condições de enfrentar uma epidemia do tipo coronavírus. Aqui eles não fazem exames, as máscaras e as luvas temos que comprar. Quem tem condições de comprar a máscara usa, e quem não tem não usa. A máscara mais simples está custando 4 euros aqui em Nápoles, mas já vi até de 7 euros. A [máscara] apropriada, custa até 15 euros”, afirmou Francisca Graciane, comentando ainda que os itens tem se esgotado em farmácias e mercantis com rapidez.
Graciane conta que já houve agressões públicas na região por possíveis sintomas do vírus. "Já houve agressões aqui porque você não pode espirrar, tossir, chegar perto de ninguém. Está um estado de calamidade”, reflete.
Sem conseguir trabalhar
O casal morava em Milão, capital da Lombardia, onde o avanço da doença foi mais acentuado na Itália. — Foto: Arquivo Pessoal
Francisca afirma que as dificuldades são imensas e que precisa seguir as ordens do governo italiano para ficar em casa. Por conta disso, ela deixou de trabalhar como faxineira. Graciane sai de casa apenas para fazer compras e enfrenta filas imensas.
"Para ir ao mercado, eu preciso deixar meus filhos sozinhos em casa". Já o marido de Graciane continua indo trabalhar, de acordo com ela. “Se o vírus está no ar, meu marido também não deveria ir pro trabalho, mas ele tem que ir. A precaução no trabalho é colocar máscaras e luvas. Só isso”, destaca.
Repatriação
Passageiros do Voo da Companhia Aérea Air China, vindo de Beijing e escala em Madri, desembarcam no Aeroporto Internacional de Guarulhos usando máscaras, com medo do Covid 19 (Coronavírus) e por recomendação da ANVISA, nesta quinta feira (27). — Foto: ROBERTO CASIMIRO/FOTOARENA/FOTOARENA/ESTADÃO CONTEÚDO
“Tenho medo de estar aqui. Meus filhos, que são ítalo-brasileiros, e eu queremos usufruir do meu direito de voltar para o meu país, de ser repatriada. Não podemos estar aqui, somos asmáticos”, frisou. Francisca conta ainda que uma amiga cearense tem o desejo de voltar, mas também não tem condições financeiras para retornar. Por isso, as duas querem a repatriação para o Brasil.
Na última terça-feira (10), o secretário-executivo do Ministério da Saúde, João Gabbardo dos Reis, descartou a possibilidade de trazer os brasileiros residentes na Itália. O representante do governo alegou que a quantidade de brasileiros vivendo no país europeu inviabiliza a repatriação. "Temos a informação de que 80 mil brasileiros moram nessa região. Não existe no radar essa possibilidade de repatriação dos que estejam na Itália", comenta.
E que, no caso dos brasileiros trazidos de Wuhan, epicentro da doença na China, apenas 34 pessoas declararam interesse.
Ciclo do coronavírus — Foto: Arte/G1